Pelo Mário, sempre.
         Recebi, nesta segunda-feira, mensagens  do meu velho amigo Mário Martins, mais conhecido por todos como Mário  Bigode. Pedia-me apoio, pois fora acusado de ser machista, racista,  preconceituoso. Não acreditei. Li diversas vezes as mensagens, as  explicações publicadas na internet. Continuo não acreditando.
         Não tenho nenhum problema em afirmar  que sou amigo, reconhecido como amigo (e me orgulho disso) de Mário  Bigode. Há dez anos que nos conhecemos e nos encontramos. Trocamos  ideias, discutimos - muitas vezes duramente - os assuntos mais variados.  Nem sempre concordamos. Contudo, sempre nos respeitamos e continuamos  amigos.
         E eu que sou negro, autoreferenciado e  indubitavelmente negro, receber uma carta afirmando que meu velho amigo  seria racista é, no mínimo, chocante.
         Mário Bigode sempre colocou em pauta,  em todos esses anos que convivemos, a discussão sobre os trabalhadores  no serviço público. Em particular, dos servidores públicos negros e  negras, que entraram na Unicamp, por concurso, na década de 1980. Que  compuseram os quadros mais variados do serviço na Universidade,  especialmente no IFCH e no AEL (em que ele e eu atuamos). E que têm  diminuído drasticamente, junto com o quadro dos funcionários mais geral  da Universidade.
         Mário Bigode  foi quem me chamou  atenção, muitos anos atrás, para a importância que tiveram os concursos  públicos, décadas atrás, sem entrevistas, para a entrada de homens e  mulheres negros na carreira do serviço público universitário. E da  necessidade de defender, sempre, o serviço e concurso público, sem  entrevistas, como forma de combate ao preconceito e discriminação  étnico-raciais.
        No Ael, onde se encontravam anos atrás o  maior contingente de funcionários negros do IFCH, vi não poucas vezes  Mário Bigode defender seus colegas e lutar com eles pela melhoria das  condições de trabalho. A carta escrita e assinada por funcionários do  IFCH, em sua defesa, não me deixa mentir.
        Com ele discuti diversas vezes os mais  diferentes aspectos da produção política e cultural negra no Brasil, por  serem temas que nos interessam. Com ele aprendi muito sobre isso,  especialmente por sua visão angulada do ponto dos trabalhadores, homens e  mulheres anônimos, com quem conviveu. Negros, a maior parte, senão  todos.
         Acho que é desnecessário me alongar.  Segue valendo o que o que escrevi sobre o Mário, meses atrás, em outro  texto:
        Com Mário Martins o debate é sempre  franco, aberto, sem meandros, direto. Olho no Olho. Idéia com idéia,  contra idéia outra idéia. Em voz alta, sem sussurros, sem modulação  menor. Alguns dos seus interlocutores não concordam com o tom,  melindram. Eu já discuti muitas vezes com meu xará. Já disse e ouvi  coisas ásperas. E isso nunca me fez perder o respeito ou perder o seu  respeito. Idéia com idéias, idéias contra idéias. 
        CONTRA UM TEXTO, OUTRO TEXTO.  FRANCAMENTE. DIRETAMENTE. DEMOCRATICAMENTE.
Mário Augusto Medeiros da Silva (estudante de doutorado no IFCH).
 
 
 
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